Aquecimento Climático não deve causar a extinção de espécies de árvores ancentrais da Amazônia a curto prazo, mas a floresta ainda sofre múltiplas ameaças

janeiro 29, 2013
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ANN ARBOR—Uma nova análise genética revela que várias espécies de árvores comuns da Amazônia devem sobreviver a elevação da temperatura provocada pelos homens no próximo século, contrariando estudos anteriores que diziam que o aumento da temperatura poderia causar o desaparecimento delas.

Entretanto, os autores do novo estudo avisam que as secas extremas e os incêndios florestais vão impactar a Amazônia com o aumento da temperatura, e a exploração dos recursos naturais da região continua a ser uma grande ameaça ao seu futuro. A política de conservação da Amazônia deve permanecer focada na redução da emissão de gases globais do efeito estufa e no desflorestamento, eles dizem.

Um estudo do biólogo evolutivo Christopher Dick, da Universidade do Michigan, e dos seus colegas mostra a surpreendente idade de algumas espécies de arvóres da Amazônia – mais de 8 milhões de anos – o que comprova que elas sobreviveram a períodos muito quentes semelhantes aos previstos nos piores cenários de aquecimento global para o ano 2100.

A publicação online da pesquisa está agendada para o dia 13 de dezembro, no Jornal Ecologia e Evolução. O novo estudo contraria pesquisas anteriores, que baseadas em cenários da modelagem de Nicho Ecológico (ENM), previam extinções de algumas espécies de árvores, em resposta a relativamente pequenos aumentos da média da temperatura global do ar.

“Nosso estudo fornece evidências de que as espécies de árvores comuns da Amazônia aturaram climas mais quentes do que o clima atual, o que implica que – na ausência de outras grandes mudanças no meio ambiente – essas espécies podem tolerar mudanças climáticas que venham a ocorrer em um futuro próximo, disse Dick, professor associado de Ecologia e Biologia Evolutiva e diretor interino do Herbário da UM.

Mas o co-autor do estudo, Simon Lewis, da Universidade Global de Londres e da Universidade Leeds previne que “o passado não pode ser diretamente comparado ao futuro.”

“Enquanto as espécies de árvores parecem que vão tolerar temperaturas do ar mais elevadas do que as atuais, a Floresta Amazônica está sendo convertida para a agricultura e a mineração, e o que permanece da floresta está sendo fragmentado pelas estradas e pelos campos,” disse Lewis. “As espécies não se moverão tão livremente na Amazônia de hoje como elas faziam em períodos quentes anteriores, quando não havia nenhuma interferência humana. Semelhantemente, as alterações climáticas de hoje são extremamente rápidas, tornando difícil as comparações com o passado.”

“Com uma compreensão mais clara dos riscos relativos da floresta Amazônica, nós concluímos que os impactos diretos causados pelos homens, como a alteração da floresta para agricultura e mineração, devem permanecer como foco da política de conservação,” disse Lewis. “Nós também precisamos de ações mais agressivas na redução da emissão dos gases do efeito estufa para diminuir os riscos de seca e o impacto dos incêndios, e assim assegurar o futuro das espécies de árvores da Amazônia.”

Dick e os seus colaboradores usaram a técnica do Relógio Molecular (MCH) para determinar as idades de 12 espécies de árvores comuns generalizadas da Amazônia, incluindo a sumaúma e a balsa. Em seguida, eles analisaram eventos climáticos que ocorreram desde o surgimento daquelas espécies. No geral, eles concluíram que quanto mais velha a espécie da árvore, mais quente o clima que ela sobreviveu anteriormente.

Os pesquisadores determinaram que nove espécies de árvores existem há pelo menos 2.6 milhões de anos, sete há mais ou menos 5.6 milhões de anos, e três existem há mais de 8 milhões de anos na Amazônia.

“Essas são surpreendentemente idades velhas,” disse Dick. “Os estudos prévios sugeriam que a maioria das espécies de árvores da Amazônia talvez tivesse surgido durante o Período Quaternário, de 2.6 milhões de anos atrás até o presente.”

A temperatura do ar na Amazônia na Época Plioceno (3.6 milhões até 5 milhões de anos atrás) era semelhante à projetada para a região no Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima em 2100, usando os cenários de emissão de carbono mais altos. A temperatura do ar na Época Mioceno (5.3 a 11.5 milhões de anos atrás) era praticamente a mesma à projetada pelo IPCC para 2100, utilizando cenários de emissão de carbono mais altos.

As 12 espécies de árvores usadas no estudo conseguem representar a flora da Amazônia. As primeiras coletas florestais foram feitas na região central do Panamá, no oeste do Equador e na Amazônia Equatoriana. As coletas adicionais foram feitas no Brasil, no Peru, na Guiana Francesa e na Bolívia. Outras amostras de plantas foram obtidas em herbários.

“A descoberta mais duradoura do nosso estudo pode ser o encontro de variações geográficas antigas dentro das espécies comuns, indicando que muitas espécies de árvores da Floresta Amazônica foram amplamente distribuídas antes da principal elevação dos

Andes do Norte,” disse o co-autor do Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian, Eldredge Bermingham.

Para determinar a idade de cada uma das espécies, os pesquisadores extraíram e sequenciaram o DNA das amostras das plantas, em seguida avaliaram o número de mutações genéticas contidas nessas amostras. Utilizando a técnica do Relógio Molecular (MCH) e o modelo da genética populacional, eles estimaram quanto tempo levaria para cada uma das populações de árvores acumular o número de mutações observadas, o que forneceu uma idade mínima de cada espécie.

“Esta é uma limitação importante porque nos últimos dois milhões de anos, nós estamos em um período frio – basicamente todo o período Quaternário – e algumas árvores podem ter perdido a tolerância ao clima mais quente,” disse Dick. “Pesquisas adicionais são necessárias para testar se isto tem ocorrido.”

O estudo da Evolução e Ecologia é intitulado “Origens do neógeno e as implicações da tolerância das espécies de árvores amazônicas ao calor.” Além de Dick, Bermingham e Lewis, Mark Maslin, da Universidade Global Londres é co-autor. O suporte financeiro da pesquisa foi fornecido pelo Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian, pela Universidade de Michigan, pela Fundação Nacional da Ciência e pela Royal Society de Londres.

Na quinta-feira, dia 13 de dezembro, após as 19h00, o estudo completo estará disponível online no endereço: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ece3.441/full