Uso de smartphones pode “contaminar” qualidade do tempo em família

outubro 18, 2016
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Tecnologia significa que trabalho e pressões externas não podem ser evitados em casa; mas o uso é, muitas vezes, aumento da tensão entre pais e filhos e estresse geral.

ANN ARBOR, Mich. – Um pai ou uma mãe chega do trabalho, e junto com eles um novo “ding” alertando a entrada de um e-mail ou mensagem no telefone. Ao mesmo tempo, o filho está chamando para fazerem um lanche juntos. O que você responde primeiro – o toque do seu fone ou seu filho chorando, clamando por atenção?

Enquanto decide, o bip do telefone continua tocando – mais e-mails, notificações de mídia social, alertas de notícias, e um texto “urgente”.

Como os smartphones e os tablets apresentam uma linha tênue entre trabalho, casa e vida social, os pais estão lutando para equilibrar tudo isso, segundo um novo estudo publicado no Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics. A pesquisa avalia o uso da tecnologia móvel pelos pais ao redor das crianças, o que pode estar causando tensão interna, conflitos e interações negativas com os filhos.

É um desafio que ambos os pais e os provedores de saúde devem enfrentar em sintonia.

“Os pais estão se sentindo constantemente em mais de um lugar quando eles estão educando seus filhos. Eles ainda estão “no trabalho”, estão socializando com amigos ou parentes. Tudo ao mesmo tempo, tentando preparar o jantar e atender às suas crianças “, diz a principal autora do estudo, Jenny Radesky, especialista em comportamento infantil e pediatra do Hospital das Crianças Mott, da Universidade de Michigan. Ela conduziu o estudo com colaboradores do Centro Médico de Boston.

“É muito mais difícil alternar entre o cérebro da mãe ou do pai e outros aspectos da vida, porque os limites estão todos embolados. Queríamos entender como isso estava afetando os pais emocionalmente. Descobrimos que os pais estão lutando para equilibrar o tempo da família e o desejo de estar presente em casa com as expectativas vindas com a tecnologia, como responder ao trabalho e outras demandas rapidamente”.

O novo estudo incluiu 22 mães, nove pais e quatro avós. Os participantes tinham entre 23 e 55 anos (idade média de 36) e cuidavam de crianças com até 8 anos de idade. Cerca de um terço eram mães ou pais solteiros.

Os participantes expressaram a constante luta interna entre a multitarefa com o uso da tecnologia móvel, o trabalho e as crianças, a sobrecarga de informações e as tensões emocionais interrompendo as rotinas familiares. Como uma mãe em um grupo focal descreveu, “o mundo inteiro está em seu colo.”

Alguns pais também relataram um efeito “bola de neve”. Sua resposta emocional para o que estavam lendo no seu dispositivo móvel – não importa se era um e-mail de trabalho ou más notícias – às vezes afeta a maneira como respondiam aos filhos, por exemplo. Os pais também descreveram a busca por mais atenção das crianças quando eles muito focados e atentos aos seus dispositivos móveis, o que provocou interações negativas, como choro e estresse das crianças.

Ao mesmo tempo, os cuidadores disseram que a tecnologia móvel tem fornecido “uma fuga” do tédio e do estresse das demandas da parentalidade e da vida doméstica. Uma mãe disse que depois de longos dias com crianças, poder se conectar com o mundo exterior é uma lembrança de que “há vida além disso.”

Entre outras vantagens estão a possibilidade de trabalhar mais a partir de casa (quando a conexão digital para trabalho poderia ser mantida sob controle); a comunicação mais fácil com os membros distantes da família e o uso como uma ferramenta para manter a paz e tranquilidade em casa.

“Você não tem que estar disponível para os seus filhos 100 por cento do tempo. Na verdade, é saudável que eles sejam independentes. Também é importante que os pais se sintam relevantes no trabalho e em outras partes de suas vidas”, diz Radesky. “No entanto, estamos vendo os pais sobrecarregados e exaustos por serem puxados em tantas direções diferentes.”

A estimativa é de que os pais utilizem os dispositivos móveis, como tablets e smartphones por quase três horas por dia. Mas poucos estudos exploraram o papel que estas tecnologias desempenham nas interações familiares.

“A tecnologia transformou a forma como os pais usam mídia digital em torno de seus filhos”, diz Radesky. “Comparado com as distrações tradicionais, como livros, a tecnologia móvel é descrita como muito mais atrativa, o que é imprevisível e requer um maior investimento emocional.”

Com tudo isso em mente, os médicos têm algumas recomendações para as famílias que lutam para ficarem desconectadas. Algumas sugestões de Dr. Radesky:

Estabelecer limites. Criar uma plano familiar que inclui espaços e tempos desligados durante o dia. Por exemplo, você pode eliminar o uso da tecnologia na hora do jantar ou antes de dormir. Ou talvez quando você chegar em casa e seus filhos estão animados para vê-lo. Talvez você conecte o dispositivo em uma determinada sala e somente o utilize neste espaço ou concorde em não usá-lo em determinadas áreas da casa (por exemplo, nos quartos das crianças).

Rastrear o seu uso do seu dispositivo. Considere a criação de um filtro/horário limitado para evitar a tentação de usar tecnologia em excesso em casa. Aplicativos como o “Momento” e “tempo de qualidade” também pode ajudar a controlar o uso móvel e ver onde você pode estar gastando muito tempo. Se 90 por cento do seu tempo está no Facebook ou e-mail de trabalho, por exemplo, você pode pensar em maneiras de reduzir o tempo de tecnologia para esses fins.

Identificar as principais atividades online que causem estresse. Pense sobre quais partes do uso dos dispositivos móveis são mais estressante para você. Se é ler as notícias ou verificar o e-mail de trabalho, por exemplo, reserve essas tarefas para momentos em que você sabe que seus filhos estão ocupados. Dessa forma, você tem o seu próprio tempo e espaço para processar a informação em vez de interromper o tempo com as crianças que podem reagir a suas emoções negativas e à sua própria negatividade.