Em busca de uma morte tranquila

agosto 7, 2017
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O residente brasileiro com a equipe da Universidade de Michigan. Crédito: Arquivo PessoalO residente brasileiro com a equipe da Universidade de Michigan. Crédito: Arquivo PessoalAnn Arbor—A medicina paliativa no Brasil ainda engatinha. Muitos sequer entendem seu conceito de oferecer atendimento multidisciplinar para pacientes com uma doença ameaçadora da vida, onde a prioridade dos médicos é compreender e enxergar a pessoa, estarem atentos a detalhes, além de prover uma sobrevida maior e de qualidade. Nada de intervenções abusivas e sim, um tratamento integrado e customizado.

“Vemos o paciente de uma forma completa, global e trabalhamos com suas necessidades físicas, psicossociais e espirituais,” explica o diretor do Programa de Educação em Medicina Paliativa da U-M, Marcos Montagnini.

Em contraste com os Estados Unidos, a instrução de medicina paliativa não é uma exigência nas escolas médicas brasileiras e as atividades relacionadas ainda precisam ser regularizadas na forma de lei. Crédito: Adrian Boliston via Wikimedia CommonsEm contraste com os Estados Unidos, a instrução de medicina paliativa não é uma exigência nas escolas médicas brasileiras e as atividades relacionadas ainda precisam ser regularizadas na forma de lei. Crédito: Adrian Boliston via Wikimedia CommonsSão os profissionais de paliativos que trabalham a humanização da medicina de maneira mais profunda, onde a relação médico-paciente passa por disciplinas, exercícios e estudos de casos. As ações incluem medidas terapêuticas para o controle dos sintomas físicos, intervenções psicoterapêuticas e apoio espiritual ao paciente, desde o diagnóstico ao óbito. Para os familiares, as ações se dividem entre apoio social e espiritual e intervenções psicoterapêuticas também do diagnóstico ao período do luto.

“A população está envelhecendo e o problema é que espaço para cuidados paliativos são quase inexistentes no Brasil. É imprescindível alinhar o tratamento físico com a parte emocional de um paciente. Essa área é realmente um campo emergente,” diz Montagnini.

Apenas três das 180 escolas de medicina do Brasil, ou seja, 1,7%, oferecem educação em medicina paliativa.

Para suprir essa carência, as escolas de Medicina da U-M e da Universidade de São Paulo, a USP, criaram um novo programa de intercâmbios de observações e estudos em cuidados paliativos entre o Departamento de Medicina Interna da USP e a Divisão de Medicina Paliativa Geriátrica da U-M. Desde de 2016, oito residentes brasileiros passaram um mês em Michigan para aprender e vivenciar os conceitos básicos da medicina paliativa.

Residente em Geriatria na USP, Murilo Dias foi um dos primeiros intercambistas da parceira entre as duas universidades. Ele enfatiza que há poucos profissionais brasileiros com grande conhecimento e expertise na área, e que a maioria dos médicos desconhece os conceitos mais básicos. “A estrutura voltada para cuidados paliativos, tanto em hospitais quanto em clínicas e hospices é muito incipiente e a população geral ainda está marginalizada dessa discussão. O futuro é promissor, mas há um longo caminho pela frente,” diz.

Na U-M, Murilo pôde acompanhar médicos residentes ‘altamente capacitados’, presenciar o trabalho integrado da equipe multidisciplinar e participar de discussões clínicas com professores experientes. “Além disso, pude presenciar pacientes nas situações mais complexas de fim de vida e comparar com a experiência que tive no Brasil,” disse.

Residente Visitante

Murilo Dias e o diretor do Programa de Educação em Medicina Paliativa da U-M, Marcos Montagnini. Crédito: Arquivo PessoalMurilo Dias e o diretor do Programa de Educação em Medicina Paliativa da U-M, Marcos Montagnini. Crédito: Arquivo PessoalDurante o período em Michigan, os residentes visitantes aprendem sobre o gerenciamento da dor no fim da vida, ganham habilidades de comunicação relativas a situações delicadas enfrentadas no dia-a-dia com os pacientes com doenças crônicas, aprendem como uma equipe interdisciplinar trabalha dentro de um hospice (conhecidos como hospedaria em português), além de outras competências, como a importância em passar mais tempo com os pacientes, que enriquecem sua formação como médicos ao voltarem para casa.

Em contraste com os Estados Unidos, a instrução de medicina paliativa não é uma exigência nas escolas médicas brasileiras e as atividades relacionadas ainda precisam ser regularizadas na forma de lei. A instrução de medicina paliativa no nível de pós-graduação também é insuficiente, um fato que Montagnini espera que esta nova parceria vai ajudar a mudar. Nos EUA, a disciplina é obrigatória há mais de uma década.

Montagnini explica que o objetivo a longo prazo é colaborar com a USP na criação de um programa de desenvolvimento para treinar seus próprios alunos em cuidados paliativos, além de desenvolver projetos de pesquisa conjunta, explorando programas de educação médica e pesquisa clínica nessa área.

“Já estamos vendo um impacto para os nossos residentes da USP que estão retornando ao Brasil e se envolvendo ativamente com seus pacientes e famílias em discussões de cuidados paliativos”, disse Montagnini. “Considerando que o esforço é tão novo, estou muito satisfeito com o impacto que a parceria já está tendo.”

Esse pode ser um grande passo para o futuro dos cuidados paliativos no Brasil e um instrumento para a falta de informação sobre a área.

Murilo, o residente em Geriatria da USP, quer muito mais depois da passagem por Michigan. “Meu plano é estudar mais e aplicar a experiência que tive tanto na U-M quanto no Hospital das Clínicas nos meus pacientes idosos, melhorando o atendimento para eles e também para seus familiares,” disse.

Mais informações: http://globalreach.med.umich.edu/articles/umms-ramps-palliative-care-training-partnership-brazil